Lidar com as exigências, críticas e opiniões da sua mãe não é fácil. Mas, investir na conversa é a única maneira para acabar com a guerra entre vocês.
Por Rita Trevisan
Parece missão impossível construir uma ponte entre o seu universo e o da sua mãe? Pois vamos começar esta matéria, logo de cara, com uma notícia pra você: 99,9% das adolescentes se sentem exatamente assim. Isso porque o simples fato de você e sua mãe serem de gerações diferentes faz com que tenham uma visão muito particular do mundo e da maneira de se relacionar com ele. "Os conflitos existem porque a mãe tende a olhar para a adolescência da filha sob a perspectiva da adolescência que ela teve", diz a psicóloga Maria Teresa Maldonado, especialista em comportamento e autora do livro O Bom Conflito: Juntos Buscaremos a Solução (Integrare Editora). Mas, ainda que existam, essas diferenças não devem servir para justificar tantas brigas e mágoas, que atrapalham a relação. "Há uma barreira de preconceito muito forte entre as gerações. Os pais, em geral, acham que os mais novos são irresponsáveis, que não sabem tomar decisões. Porém, os jovens, em geral, também têm preconceito, acreditam que os pais nunca têm razão porque são caretas. O que não percebemos, muitas vezes, é que há uma riqueza muito grande na diferença, que sempre pode haver troca de conhecimentos", alerta Maria Teresa. Em outras palavras, o que ela quer dizer é que, mesmo com tantas opiniões que não batem, você e sua mãe poderiam estar vivendo de um jeito muito mais gostoso, o que facilitaria a sua vida e a dela, evitando tanto estresse e lágrimas. Quer tentar?
DÊ O PRIMEIRO PASSO
Por pior que tenha sido a última briga entre vocês, é sempre possível juntar os cacos e recomeçar. Mas, para que essa reaproximação aconteça, é preciso que alguém se habilite, fazendo a sua parte. E por que não você? Para começar, tente reconhecer que, por mais difícil que a sua mãe seja, ela também tem lá as razões dela para se estressar com você. A reconciliação só acontecerá se houver o entendimento de que, nessa história, não há certo e errado. O que existe, de fato, são só duas maneiras diferentes de pensar. "Os adolescentes, em geral, idealizam os pais, desejando que pudessem ser melhor compreendidos. E se frustram porque a família não é exatamente como esperam. Mas, dificilmente, param para refletir se estão de acordo com o que os pais desejam deles, também", diz a psicóloga Maura di Albuquerque. No fim das contas, embora a gente tenha, mesmo, um ideal de pais - assim como eles têm da gente - é pura perda de tempo querer mudar o jeito de ser do outro. Para tornar as coisas mais fáceis, o melhor mesmo é aceitá-los como são, não é verdade? Isso não significa aceitar tudo o que os pais impõem. Mas, que tal fazer isso sem desafiar a autoridade da sua mãe, colocando os seus argumentos? "Os pais aprendem com os filhos, e podem modificar muito a visão deles. Mas isso só vai acontecer quando os adolescentes desenvolverem a capacidade de argumentação", avisa Maria Teresa.
Para defender seus pontos de vista, você precisa:
1) Conversar com a sua mãe, ouvindo com respeito o lado dela e compreendendo suas razões;
2) Pensar exatamente no que vai dizer, expondo seus motivos e usando um raciocínio lógico para tentar convencê-la de que a sua opinião também é válida. E aí a gente aprende, com as especialistas, mais uma lição importante: é preciso mostrar que o seu ponto de vista é válido, só isso. "Os conflitos não existem porque mãe e filha pensam diferente. Mas porque uma quer convencer a outra a adotar o seu ponto de vista", afirma Maura di Albuquerque. Segundo as psicólogas, essa habilidade de negociar - que a gente desenvolve também na adolescência, a partir dos conflitos - será importante em todas as fases da nossa vida, em situações profissionais, em relacionamentos afetivos, e assim por diante. Imagine que, quando tomar uma bronca de um futuro chefe, você não poderá, simplesmente, bater a porta na cara dele. Para manter o seu emprego, será preciso encarar a situação com maturidade e, principalmente, pensar na melhor saída para desfazer o climão que ficou entre vocês. Então, por que não começar a treinar esse tipo de atitude em casa, com a sua mãe?
"Os conflitos existem porque a mãe tende a olhar para a adolescência da filha sob a perspectiva da adolescência que ela teve."
ENTENDA AS RAZÕES DELA
Um outro exercício importante - e que também vai valer para o resto da vida - é o de tentar ver o lado da outra pessoa. "Os pais nem sempre agem de acordo com o que a filha espera. Mas é preciso observar que estas são as pessoas que estão cuidando dela desde sempre, que lhe desejam o melhor e que estão sempre tentando acertar. É preciso ter o cuidado de tentar entender o que está por trás, o que a motivou a fazer aquilo. Quase sempre a adolescente descobrirá uma boa intenção", afirma a psicóloga Maura di Albuquerque. Para entender o que diz a especialista, tente se lembrar de um daqueles momentos em que você armou uma briga daquelas com a sua mãe, porque ela não permitiu que você fosse a uma balada qualquer. Na hora do "não", você certamente correu pro seu quarto pensando algo do tipo: "Minha mãe me trata como uma criança, não vê que eu cresci" ou "Ela não confia em mim". A reação é natural. Mas e se, depois da raiva, você tentasse descobrir, de fato, quais são as preocupações dela? Perguntando, ficaria mais fácil. E quando ela dissesse que estava preocupada com a sua segurança, com os seus estudos, ou algo do tipo, você se sentiria um pouco menos vítima, e mais preparada para a boa e velha negociação. "A vida não vai nos dar tudo o que a gente quer, sempre. Os pais nos dão liberdade, mas cobram responsabilidade. Para conquistarmos algo, teremos que mostrar que somos merecedores", explica Maura. Nesse sentido, para resolver os conflitos, também é fundamental mudarmos a nossa postura. Se, em vez de cobrarmos tanto do outro, pudermos doar um pouco de nós, sendo mais colaborativas, por exemplo, vamos perceber o clima ficando mais agradável. Isso pode ser feito de diversas maneiras. Você pode se oferecer para ajudar sua mãe num almoço de domingo. Ou pode convidá-la para ir ao shopping. Quanto mais próximas estiverem, mais irão descobrir coisas em comum e, dessa forma, as diferenças acabam ficando insignificantes. "Mãe e filha não precisam pensar igual para serem companheiras e cúmplices. Mas é interessante buscarem pontos em comum. Isso dará abertura para que, nos momentos de conflito, a conversa flua com mais facilidade", diz Maria Teresa.
FAÇA PAZ, NÃO FAÇA GUERRA
Por fim, na tentativa de melhorar o clima em casa, procure olhar sempre para as coisas boas que a sua mãe faz por você. Se parar para refletir, verá que o que ela pede - respeito, atenção e carinho - é pouco perto do que você está exigindo dela. "Quando temos o reconhecimento e a gratidão, sobra pouco para as críticas e as cobranças. A relação ganha muito com isso", diz Maura. E se cada uma de nós puder praticar esse exercício mais vezes, começando em casa, muita coisa vai mudar, para melhor. Basta fazer diferente.
"Os conflitos não existem porque mãe e filha pensam diferente. Mas porque uma quer convencer a outra a adotar o seu ponto de vista."
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