Mesmo diante de todo conhecimento existente acerca da Maçonaria, não se conhece, ainda, sua verdadeira origem. Isso é atribuído ao fato de a Ordem, por ser secreta e sigilosa, em tempos remotos, ter transmitido seus conhecimentos de boca para ouvido, não os registrando, portanto, documentalmente.
Essa escassez de referências documentais, pertinentes a essa época, associada a uma abordagem superficial, contribui sobremaneira para que apareçam idéias que não se relacionam a fatos reais e históricos, fazendo com que as origens reais da Ordem Maçônica permaneçam sempre envoltas em contradições e obscuridades.De acordo com David Murray-Lyon, as atas mais primitivas conseguidas até agora são datadas de 1390, e as que se referem à reformulação da Maçonaria datam de 1717. Além dessas, há o Estatuto de Bolonha, o mais antigo, com data de 1248. Elas foram encontradas após profundas pesquisas realizadas por inúmeros historiadores maçons, destacando-se entre eles J. F. Flndelo e Dr. Wolhelm Begemann — dois grandes historiadores alemães — R. F. Gould, W. J. Hughan, G. W. Speth, Chetwod Crawle e o próprio David Murray-Lyon e tantos outros, pertencentes à Loja Quattour Coronati, nº 2076. Eles adquiriram, por meio de documentos autênticos, ensinamentos históricos e arqueológicos muito ricos, pelos quais retratam a Ordem Maçônica nas atas das Lojas e em documentos diversos.Porém, por utilizarem um método de investigação que se baseia em comprovações documentais, esses historiadores foram limitados em seu trabalho, mesmo após acumularem toda uma gama de material, tratados, decretos e sentenças. É a partir disso que toda a nebulosidade se entrelaça com a história verdadeira.Muitos escritores maçônicos têm buscado esclarecer essa origem turva da Ordem apoiando seus conceitos em uma crença literal do Antigo Testamento e em lendas curiosas da própria Ordem, das antigas Observâncias ou Constituições.Além dos historiadores, há também os antropólogos, detentores de um vasto cabedal de informações acerca dos costumes dos povos antigos, de religião e iniciação. Por meio dessas informações, eles provam, com resultados notáveis, que a Maçonaria existe muito antes de sua reformulação, fazendo analogias surpreendentes com os antigos Mistérios, que possuíam claramente nossos símbolos e sinais.Diante de tais informações, as regiões que mais nos chamam a atenção, devido às suas crenças religiosas que se assemelham incrivelmente com nossos ritos maçônicos, são a Síria e a Índia. Podemos também citar o Egito, o México, a China, a Grécia, Roma, os Templos de Burna, as catedrais da Europa Medieval e outros santuários indianos que apresentam ritos, sinais e símbolos comunicados da mesma maneira que os nossos.Ao contrário dos anteriormente mencionados, que se preocupam apenas com pesquisas históricas, os místicos apresentam uma visão diferente em relação aos Mistérios da Ordem. Sob o prisma da união consciente com Deus, eles se preocupam muito mais com a sensibilidade espiritual e com a interpretação, fazendo-nos lembrar Édouard Schuré em sua obra Os Grandes Iniciados: “… muitos são iniciados, poucos despertados…”, ou seja, à Maçonaria cabe guiar os buscadores de Deus, enquanto a estes cabe compreendê-la e segui-la adequadamente, segundo sua livre escolha.Há ainda os ocultistas. Estes têm o conhecimento do lado interno da natureza maçônica, acreditando que a Iniciação pode ir muito além do despertar de um Irmão.
Ela, por meio de uma longa e cuidadosa disciplina de meditação, pode acordá-lo e treiná-lo.
A semelhança entre os místicos e os ocultistas é que ambos têm o mesmo objetivo da união consciente com Deus, encontrando-se uma divergência apenas na maneira de alcançá-la: os primeiros utilizam-se da natureza física, emocional e mental;
os segundos, de seu estado evolutivo e da evolução espiritual.
Podemos, entretanto, afirmar que tanto um como o outro conduzem a Deus.
Percebam então, nossos Irmãos, que não é fácil a tarefa de escrever sobre a origem da Maçonaria, que apresenta-se mediante tantos pensamentos divergentes em determinados aspectos.
Poderíamos tomar esta ou aquela Escola como a mais clara e verdadeira, ou afirmar que Rama, Krishna, Moisés, Tutankhamon, Sócrates, Pitágoras, Davi, Salomão, Noé e Jesus foram maçons. Mas como provaríamos isso?Buscamos desmistificar a pesquisa maçônica apoiando-nos numa busca constante da verdade, fazendo uma separação entre aquilo que é bom e o que não o é, fixando-nos em fatos concretos. Portanto, cabe-nos aqui apenas apresentar os pensamentos de forma imparcial, realçando os pontos mais notáveis da evolução do espírito humano, rasgando o véu que cobre uma história muito interessante. Para isso, colocamos de lado nossas paixões submetidas à força material, velada pelo símbolo externo capaz de traduzir aquilo que foi colocado no papel.Entretanto, é evidente que a falta de documentos e registros dignos de crédito envolvem nossa Ordem numa penumbra histórica, o que faz com que a espiritualidade dos grandes avatares se perca nas brumas do tempo.Aproveitamos para citar aqui o artigo décimo quinto do Manuscrito Halliwell, denominado “O Regius” (1390):
“O maçom não deve ter para com os outros homens um comportamento hipócrita, nem seguir os Companheiros no caminho do erro, qualquer que seja o benefício que possa ter.Ele nunca deverá fazer um falso julgamento, e com amor deverá preocupar-se com sua alma, sob pena de trazer ao ofício a vergonha e para si a repreensão.
”Encerramos esta nossa introdução com uma simples pergunta: quantos e quantos documentos antigos não foram destruídos pela ignorância ou pela má fé?Somos,
Cláudio Roque Buono FerreiraEminente Grão-Mestre do Grande Oriente de São Paulo — GOSP
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