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segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Separados, mas sob o mesmo teto

Separados, mas sob o mesmo teto

por RAQUEL FERREIRA 

"O problema financeiro é mais dele que meu. Estou tentando fazer tudo de forma amigável para ele sair da casa, mas de certo modo a situação é cômoda para ele. Quem não quer ter uma casa com ambiente agradável, roupa lavada, comida e companhia de pessoas queridas para conversar?"
O fim de um relacionamento nunca é fácil, principalmente, quando assunto é casamento. Vários fatores interferem na decisão como o lado emocional, questões financeiras e os filhos, que sempre sofrem com a situação. Diante de tantos empecilhos e complicações, alguns casais preferem se separar, mas continuam morando na mesma casa até que surja uma oportunidade de se desvincular totalmente um do outro.
A psicóloga Ayrtes de Mattos Pulchério explica que o ser humano é muito complexo e por isso não existe uma "fórmula" que resuma, de maneira generalizada, porque muitos casais fazem essa escolha ao invés de buscar a liberdade total, quer dizer, a separação de corpos. "Cada casal é um casal e os vários motivos que os levam à separação, mas os mantém na mesma casa são muito individuais".
Uma das possibilidades é que, em muitos casos, o casal não consegue se desvincular por mais que as brigas e desentendimentos não justifiquem a convivência e os distanciem cada vez mais de um relacionamento harmonioso. "É preciso entender que muitas vezes a separação é positiva e pode libertar o casal de uma vida sofrida, de brigas e desentendimentos".
Casado durante sete anos o engenheiro Gabriel (nome fictício) há sete meses divide a mesma casa com a ex-esposa e os dois filhos. Ele comenta que ainda vive a situação por não dispor de tempo para procurar outro local para morar, mas afirma que em breve resolverá a questão.
"Um já não sente mais nada pelo outro, mas moramos na mesma casa, em quartos separados. O problema é que brigamos muito por não haver tolerância".
Embora não haja entendimento entre o ex-casal, ele reconhece o sentimento de possessividade que existe entre as duas partes. Para evitar ainda mais conflitos os dois fizeram um pacto de respeito. A principal cláusula do acordo não permite que se tenha outro relacionamento enquanto estiverem os dois morando sob o mesmo teto.
O lado financeiro também é apontado por Gabriel como um dos motivos para esta convivência. Como a ex-esposa ainda não tem um emprego, arcar com dois lares custa caro para apenas uma pessoa. "Ela está procurando um serviço, porque não existe interesse dela em ficar dependendo totalmente de mim. Ela quer ser independente também".
A psicóloga comenta que a questão financeira, por vezes, é usada como pretexto pelo casal para manter a convivência mesmo que o relacionamento afetivo tenha acabado. Ayrtes explica que a questão, às vezes, pode ser resolvida se as partes estiverem dispostas a abrir mão de algumas coisas e manter uma vida mais simples.
Fazendo um balanço da situação, Gabriel acredita que o sofrimento maior é o dos filhos que ainda são crianças (três e cinco anos) que sempre vêem os pais brigando, porém parcialmente juntos.
Na casa da empresária Fabricia (nome fictício) brigas não existem, mesmo ela vivendo uma situação semelhante a de Gabriel. Ela foi casa por 15 anos e há três está separada, mas dividindo o mesmo teto com o ex-marido. Os motivos são praticamente os mesmos: problemas financeiros para manter duas casas e também um peso emocional para o ex-marido.
Fabrícia conta que abriu mão da pensão dos dois filhos para facilitar a situação do ex-marido, além de incentivá-lo a estudar para conseguir uma melhor colocação no mercado de trabalho.
Como sente um carinho muito grande pelo ex-marido, Fabrícia tem ainda a preocupação em deixá-lo bem emocionalmente. "Nós temos um grau de amizade muito grande e estamos na mesma casa como se uma terceira pessoa morasse comigo e com meus filhos. Não temos nenhuma ligação amorosa, mas acredito que exista um receio, da parte dele, em se mudar e ficar sozinho. Entendo que não deve ser fácil chegar em casa e não ter ninguém para conversar. Mas se eu não tivesse dois filhos já teria me mudado. Faria como no meu primeiro casamento: peguei algumas coisas essenciais e fui embora para reconstruir tudo de novo".
A empresária fica dividida entre a responsabilidade de manter o equilíbrio emocional do ex-marido e conquistar a própria liberdade. "Eu não quero que ele fique mal, mas quero a minha liberdade de andar só de calcinha dentro de casa, sabe essas coisas? Eu não tenho isso com ele lá".
Quando o assunto é outros relacionamentos, ela entende que a situação é bastante complicada por ainda dividir a casa com o pai dos seus filhos. "Como vou arrumar um namorado? Afinal eu ainda moro com meu ex-marido e isso não é facilmente compreendido pelas pessoas. Quando o "cara" ficar sabendo da situação ele não vai aceitar".