quinta-feira, 26 de junho de 2014

VIDA DE AMANTE

VIDA DE AMANTE

Todo mundo fala da traição sobre a ótica da  mulher sofrida e do cafajeste traidor. Ninguém se importa com a amante, também conhecida como desgraçada, vagabunda, rampeira, interesseira e destruidora de lares


Podia ser sua irmã
A realidade que se vê não é bem assim. Aliás, a realidade sempre contraria aquilo que gostaríamos que fosse o ideal.
A amante é uma mulher como você ou sua melhor amiga, até sua mãe. A amante é uma mulher em busca do calor gostoso de um amor  para a vida inteira.
“Escolhesse um homem solteiro!” – vão praguejar as mulheres traídas. Sim, esse é o ideal, na prática essas mulheres se encantam por aquele homem meio cabisbaixo, confiante (mas por dentro hesitante) que vai surgindo lentamente no seu horizonte emocional.
Se pudesse escolher ninguém optaria por uma relação confusa, caótica e cheia de perturbação. Mas o coração humano é um caldeirão de contrariedades e sequelas.
Há pessoas que carregam um profundo medo de intimidade emocional. Racionalmente elas anseiam conviver ao lado de alguém que traga o consolo e a certeza de que o amanhã está garantido, mas emocionalmente gostam dos altos e baixos de uma relação tumultuada.
São mulheres viciadas em frustrações e que só sabem conviver com esmolas sentimentais. Sua roda-gigante afetiva sempre recebe o homem cansado da mulher oficial e proporciona a ele um ciclo de romantismo intenso até desová-lo novamente naquele mar de apatia matrimonial.
A despedida dolorosa é só uma encenação para seu jogo de  autossabotagem  Ela se alimenta da ilusão que ele irá deixar tudo o que tem para ficar com ela. No fundo ela não deseja isso, afinal sabe que quando ela se tornar a oficial ele irá ter o mesmo comportamento descuidado que tem com a esposa.
Ela gosta de receber as pepitas de ouro. O cascalho fica com a “patroa”.
Esse alimento de migalhas saborosas rende boas memórias, intensas noites de sexo, conversas despretensiosas e divertidas, nada mais que isso. No fundo ela vê a vida através de uma folha picotada num filme mal editado. A amante vive de trailer emocional, parece que o filme é bom, mas nunca sabe o final.
Sem perceber a amante sustenta esse casamento falido, afinal dá força extra para aquele homem temeroso da solidão e incapaz de assumir o pulso da própria vida.
Ela pode permanecer anos naquela história misteriosa com o homem que só aparece em horários estranhos e deixa os fins-de-semana com cama vazia e ansiedade no coração.
Para alguém que se acostumou a viver uma vida pela metade pode ser um alívio não enfrentar os desafios do cotidiano, mas para alguém que anseia por tudo a vida de amante pode ser o mais terrível martírio autoimposto.

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